O óleo de cozinha é proveniente de óleos vegetais, produzidos a partir de sementes como as de girassol, milho, canola e soja. Constitui-se por ésteres de glicerol e ácidos graxos, com consistência viscosa em temperatura ambiente (REQUE; KUNKEL, 2010).
É amplamente utilizado em estabelecimentos, lares e escolas, diariamente, devido a facilidade deste em preparar alimentos (através da fritura) e a mudança alimentar da população ao longo do tempo (MARTINS et al, 2016). Estima-se que os brasileiros consomem cerca de 3 bilhões de litros de óleo de cozinha por ano, sendo a maior parte descartada em redes de esgotos e apenas 1% destinada de maneira adequada (FATOR BRASIL, 2007).
Ao ser utilizado em altas temperaturas, gera a produção de substâncias tóxicas e, se reutilizado para o processo de fritura, gera subprodutos lipídicos; tornando-se altamente tóxico para a saúde humana (MARTINS et al, 2016).
No meio ambiente, o óleo descartado de maneira inadequada causa inúmeros problemas. Quando jogado em ralos, pode causar o entupimento das tubulações, sendo necessários produtos químicos que aumentam o custo para o tratamento da água. Quando jogado diretamente no ambiente, pode contaminar os solos e recursos hídricos (MONTE et al, 2015).
Despejado no solo, compromete sua fertilidade, atrai organismos que podem proliferar doenças e causa impermeabilização, dificultando a absorção de água da chuva, facilitando enchentes (MARTINS et al, 2016).
Nos recursos hídricos, por ser menos denso que a água, cria uma barreira superficial, diminuindo a concentração de oxigênio e causando degradação (Figura 1) (MARTINS et al, 2016). De acordo com a Resolução CONAMA 357/05, a presença de óleos e graxas nos rios de classe II deverá ser virtualmente ausente.
Figura 1. Relação do descarte inadequado de óleo com a contaminação da água.
Além disso, a decomposição do óleo de cozinha provoca sua metanização, emitindo elevadas quantidade de gás metano na atmosfera, agravando o efeito estufa (REQUE; KUNKEL, 2010).
Diante disto, devido a todo o potencial danoso e como forma de diminuir o descarte de resíduos, o óleo de cozinha pode ser reutilizado para diversos fins, como produção de glicerina, composição de tintas, geração de energia elétrica, produção de biodiesel e produção de sabão (ZUCATTO et al, 2013).
Uma vez que a educação ambiental é a maneira mais viável de informar sobre as questões ambientais e sobre como diminuir os impactos negativos sobre o meio ambiente, torna-se pertinente a criação de um projeto que vise a reutilização do óleo de cozinha para a produção de sabão contando com a participação da população.
Objetivos
O projeto tem como objetivo realizar a coleta de óleo de cozinha nas escolas municipais dos municípios consorciados para reutilizá-lo na produção de sabão ecológico. O produto final será encaminhado para os municípios.
Metodologia
Público Alvo
O projeto será aplicado nos municípios integrantes do CONSAB, com pontos de coleta em todas as escolas municipais (Tabela 1). Serão disponibilizadas bombonas com capacidade de 200 l de armazenamento para que alunos possam dispor o óleo de cozinha utilizado em seus domicílios, além do óleo utilizado nos refeitórios escolares (Figura 2).
Figura 2. Bombonas que serão disponibilizadas nas escolas municipais (200l cada)
Fonte: Consab, 2019.
A coleta do óleo armazenado nas bombonas será realizada mensalmente. Este será levado ao Ecoponto de Artur Nogueira e reutilizado para a produção de sabão, sendo o produto final reencaminhado para os municípios.
Serão distribuídas cartilhas informativas sobre o projeto, bem como a forma adequada de armazenamento para posterior destinação nos pontos de coleta (Figura 3).
Figura 3. Cartilha informativa
Fonte: Consab, 2019.
Materiais e Métodos
Materiais
As quantidades abaixo correspondem a uma receita de sabão ecológico, utilizando 13,5 litros de óleo de cozinha.
- Óleo de cozinha (13,5 l);
- Soda Cáustica em escamas (3 kg);
- Água fervente (3 l);
- Desinfetante (600 ml);
- Detergente (600 ml);
- Sabão em Pó (600 ml);
- Métodos
- Colocar a água para esquentar no fogão até atingir o ponto de ebulição;
- Colocar a água fervente em um recipiente e inserir lentamente a soda cáustica, misturando a cada adição. Mexer até a completa diluição da soda;
(Atenção: adicionar sempre a soda sobre a água e utilizar um recipiente plástico resistente, para não haver reações químicas e não derreter.)
- Retirar as impurezas do óleo na torre de peneiramento;
- Adicionar o óleo, a mistura de soda com água, o desinfetante, o detergente e o sabão em pó no tanquinho;
- Misturar rapidamente de maneira manual, com o auxílio do cabo de vassoura;
- Ligar o tanquinho para que os ingredientes misturem até homogeneizar e o sabão obter uma consistência viscosa;
- Despejar o sabão nas caixas de madeira forradas;
- Após 5 dias, o sabão deve ser cortado em porções individuais e aguardar o processo de cura (20 a 45 dias), mantendo-o em local fresco e sob o abrigo do sol.
O rendimento médio é de 16,8 l de sabão (64 porções individuais).
Resultados Parciais
Artur Nogueira foi o primeiro município a iniciar o projeto, escolhendo a EMEF “Francisco Cardona” como primeiro ponto de coleta. No dia 11 de abril de 2019, realizou-se uma reunião com a Coordenação da escola e a Secretaria da Educação, com a finalidade de apresentar o projeto (Figura 4).
Figura 4. Reunião de apresentação do projeto
Fonte: Consab, 2019.
No dia 23 de abril de 2019, oficializou-se a inauguração do projeto na EMEF “Francisco Cardona”. Foram realizadas palestras e atividades com os 430 alunos, professores e funcionários da escola, durante todo o dia. Informou-se sobre a importância da reciclagem do óleo, bem como os impactos negativos de sua destinação inadequada. Além disso, orientou-se sobre a forma correta de armazenamento do óleo usado para a posterior produção do sabão ecológico. Com o óleo coletado no Ecoponto desde 2018, foram produzidos sabões que serão entregues a comunidade.
A comunicação da Prefeitura de Artur Nogueira e o Portal Nogueirense realizaram a cobertura do evento (Figuras 5, 6 e 7).
Figura 5. Inauguração do projeto na EMEF “Francisco Cardona”
Fonte: Prefeitura de Artur Nogueira, 2019
Figura 6. Palestra com os alunos da EMEF “Francisco Cardona
Fonte: Prefeitura de Artur Nogueira, 2019
Figura 7. Sabão proveniente do óleo coletado no Ecoponto
Fonte: Prefeitura de Artur Nogueira, 2019
Espera-se obter um resultado satisfatório com o projeto e que a participação da população seja efetiva. Que compreendam a importância da reutilização do óleo, bem como os perigos advindos de sua destinação inadequada.
Seguem as notícias publicadas sobre o Projeto Sabão Ecológico.
- Notícia: “Artur Nogueira dará início ao Projeto Sabão Ecológico nas escolas municipais” – publicada em 22/04/2019 no site Portal Nogueirense (https://nogueirense.com.br/artur-nogueira-dara-inicio-ao-projeto-sabao-ecologico-nas-escolas-municipais);
- Notícia: Início do Projeto de Sabão Ecológico na EMEF Francisco Cardona – publicada em 23/04/2019 na rede social Facebook da Prefeitura de Artur Nogueira (https://www.facebook.com/185830395220060/posts/588745074928588/);
- Notícia: Escola Municipal Cardona inicia projeto Sabão Ecológico – publica em 23/04/2019 na rede social Facebook do Portal Nogueirense (https://www.facebook.com/Nogueirense/videos/320728618616832/).
Referências Bibliográficas
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras providências. Resolução n. 357, de 17 de março de 2005. Lex: Diário Oficial de União, Brasília, n. 53, p. 58-63, 2005. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em: 13 fev. 2019.
FATOR BRASIL. Projeto transforma resíduos em oportunidades de negócios. Portal Fator Brasil, jun. 2007. Disponível em: <https://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=11650>. Acesso em: 13 fev. 2019.
MARTINS, M. I. M.; MENDES, F. R. K; SOSTER, C.; FRAGA, E.; SANTOS, A. M. P. V.; SCHOREDER, N. T. Reciclo-óleo: do óleo de cozinha ao sabão ecológico, um projeto de educação ambiental. Cinergis, Santa Cruz do Sul, v. 17, n.41, p. 301-306, out./dez. 2016. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/cinergis/article/view/8146>. Acesso em: 13 fev. 2019.
MONTE, E. F.; FAGUNDES, T. C.; XIMENES, A. F.; MOURA, F. S.; COSTA, A. R. S. Impacto ambiental causado pelo descarte de óleo; Estudo de caso da percepção dos moradores de Maranguape I, Paulista – PE. Revista GEAMA, Recife, v. 1, n.2, set. 2015. Disponível em: <http://www.journals.ufrpe.br/index.php/geama/article/view/488>. Acesso em: 13 fev. 2019.
REQUE, P.T.; KUNKEL, N. Quantificação do óleo residual de fritura gerado no município de Santa Maria – RS. Disciplinarium Scientia, Série Ciências Naturais e Tecnológicas, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 50-63, 2010. Disponível em: <https://www.periodicos.unifra.br/index.php/disciplinarumNT/article/view/1266>. Acesso em: 13 fev. 2019.
ZUCATTO, L. C.; WELLE, I.; SILVA, T. N. Cadeia reversa do óleo de cozinha: coordenação, estrutura e aspectos relacionais. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 53, n. 5, p. 442-453, set./out. 2013. Disponível em: <https://rae.fgv.br/rae/vol53-num5-2013/cadeia-reversa-oleo-cozinha-coordenacao-estrutura-aspectos-relacionais>. Acesso em: 13. fev. 2019.